Tarde de sábado, eu me recordo de um aniversário – não o meu – quando eu experimentei meu primeiro shot de tequila. Descobri uma bebida supreendentemente forte, aveludada, o verdadeiro significado do “descer redondo”. Claro, apenas um shot e eu saí pela rua, cantando “Se Adelita se fuera con otro …”. Naquele tempo, eu ainda não conhecia Les Luthiers muito bem.
Voltando. Sei que há muitos blogueiros que têm como costume colocar músicas, poemas, com certa periodicidade. Eu, não. Aliás, periodicidade e Didi Iashin não se sentam na mesma mesa, sorry.
Entretanto … Muitasa pessoas que já conviveram comigo sabem da minha aversão à poesia. O problema é: eu gosto, sim, de poesia. PORÉM – e sempre há um porém – essas pessoas se surpreenderiam ao saber que eu gosto, sim, de POESIA. No meu universo, John Donne, Shakespeare (o Bardo escreveu sonetos maravilhosos), Fernando Pessoa, Emily Dickinson … Obviamente, nesta estante há lugar para algumas linhas de Carlos Drummond de Andrade, Maya Angelou. E, definitivamente, não há um espacinho sequer para Vinicius de Moraes. ARGH!
Nessa minha caminhada pela vida, however, um amigo me apresentou um poeta de pena forte, modernista que trabalha com sons e cores. E, como não podia deixar de ser, com um bocado de humor. Como no poema que transcrevo abaixo:
“O bilhete começado pelo boa noite
Prezado senhor Sosígenes
Boa-noite, amigo e senhor.
Começo este bilhetinho,
dando boa-noite ao senhor.
E mando este bilhetinho
pelo próprio marmiteiro
que leva o jantar para o senhor.
Queria mandar-lhe um peixinho
mas não achei, meu amor.
O povo daquela banca
parece que não tem pudor,
assalta a banca de peixe
parecendo até os assaltos
de César, o conquistador,
e eu fico sem ter um peixinho
para mandar para o senhor.
Queria mandar-lhe um peixinho
espetado numa flor.
Há tantas flores, agora, no meu quintal,
meu senhor,
que enfeito meus pratinhos
com ramalhetes de flor.
Isto é, certos pratinhos
que eu mando para o senhor.
Queria mandar-lhe o peixinho
que me ensinou a nadar
para sentires a beleza
daquele gozo do mar.
Amanhã eu mandarei
um jantarzinho melhor.
Vá desculpando este bife
que suponho está pife.
Se não gostar desta peça,
pode mandar me dizer -
que não ficarei zangada,
soltando sete suspiros
e treze lágrimas de amor.
Ao contrário, ficarei satisfeita com o senhor
pois não sei o que tu gostas …
Sim, coração do que gostas?
De marisco ou outro petisco?
Moreninho, do que gostas?
É de sonhos, meu senhor?
É de suspiro ou cocada?
Ou é de papos de anjo?
Ou é de beijos de amor?
Senhor Sosígenes, eu soube que o senhor é tão calado!
Fale, meu coração.
Me mande um recado de boca
sobre o assunto por favor.
Moreninho, dá-me um beijo
que eu te darei, meu senhor,
uma coisa na bandeja …
adivinhe o que será?
Sonho e suspiros …
Docinhos feitos com amor.
Isto não é uma cartinha
que eu mando apra o senhor,
pois comecei estas regras
dando boa-noite ao Senhor,
em vez de usar de etiqueta
que eu não uso com o senhor.
Isto é apenas um recadinho
da respeitadora
dona da pensão.”
O autor? Sosigenes Costa.
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