15/08/2010

Meu mundinho de novelas

Todos os que me conhecem – e não são muitos, posso afiançar – sabem que eu sou apaixonada por novelas, principalmente as bem escritas. Isso vem desde pequena, quando em casa não havia televisão mas havia rádio, e minha mãe ouvia as novelas da Rádio São Paulo, dirigidas pelo Urbano Reis. Confesso que, na época, eu não gostava muito daquilo e preferia ouvir uma rádio que tinha programas em japonês (???) ou o programa de rádio do Sílvio Santos (a-hai!), sem o Lombardi, que agora está fazendo narrações no Céu.

Sério, eu adorava ouvir o programa dele, principalmente quando ele encenava trechos de “Jerônimo, o herói do Sertão” ou “Histórias que o povo conta”, com casos sobrenaturais. Isso, à tarde, pois pela manhã eu adorava ouvir “Patrulha Bandeirantes”, uma espécie de “Aqui, agora” falado.

Pois: sim, eu gosto de novelas, e sempre achei Ivani Ribeiro a Senhora dos destinos dos folhetins. Logo em seguida vinha Janete Clair, mestra, também, na arte de criar tramas e personagens. Silvio de Abreu é outro mestre dos folhetins da telinha. Gosto tanto que tenho uma novela no meu coração: “O privilégio de amar”, remake de “Os ricos também choram”, do SBT. Sim, quando se fala em novelas, o must é a Globo, o trash é o SBT e suas novelonas mexicanas. Aí é que a porquinha  (hein?) torce o rabo. Eu gosto de novelões mexicanos. Aquela choradeira, aquela maldade concentrada – talvez tão concentrada quanto os perfumes e a quantidade de maquilagem usada – tudo isso me atrai. “O privilégio” tinha as maldades, o rezar para a Virgenzinha (de Guadalupe), uma filha abandonada, um passado que condena, uma vilã excepcional em suas maldades (D. Ana Joaquina), uma garota que se entrega ao mocinho, engravida e descobre que a jararaca da namorada do mocinho também está grávida e ele precisa se casar com ela para reparar “o mal feito”. O que? Você já viu isso em algum lugar? Desde os tempos de “O direito de Nascer” você já ouviu isso. Trata-se de um dos clichês mais fulgurantes – e um dos mais gastos – dos folhetins. Isso causa sofrimento, percalços e, é claro, um final absolutamente feliz entre mocinha, mocinho e pimpolho. E quanto aos malvados?

No Brasil, é sabido que não há pena de morte oficial. Porém, em novelas, a pena de morte existe. E quanto pior forem as maldades cometidas durante os capítulos que precedem o final da novela, mais horrorosa será a sua morte. O que acontece, atualmente, é que estão acontecendo muitas mortes de vilões. E eu acho isso injusto, pois os bonzinhos também vão morrer. Morrer é a única certeza que o ser humano tem, embora não saiba quando. Eu sei, o povo exige a morte do vilão, já que, na vida real, muitos bandidos estão por aí, leves e vivos, enquanto suas vítimas estão apodrecendo num caixão. Ou seja, morte não é castigo para ninguém. Diria Petronius, em “Quo Vadis”: não é só necessário viver bem, é preciso morrer bem. Uma cadeiazinha cairia bem para eles, não é mesmo?  Cadeia, trabalhos forçados e nada de regime semi-aberto, progressão de pena, essas coisas. Puxar cana até o final da pena, sem direito a condicional, como eu aprendi no “Medical Detectives”.

Falando da minha novela favorita: a vilã, D. Ana Joaquina, livra-se das pessoas que atrapalham seus planos e vai, linda e leve, confessar seus pecados. Não é maquiavélica? Ela divide seu fardo com quem não pode entregá-la para a polícia. Até que chega um momento em que isso não pode mais ser feito, e ela é presa. sim, a novela termina com a prisão dela, que se mantém impenitente! Ou seja, é o mal concentrado! Delirei com o final da personagem.

Agora, uma morte de vilão que me impressionou – tanto que penso nela até hoje – foi a de um vilão em uma novela, também mexicana, em que o sujeitinho do mal planeja sua morte. Explico: ele planeja passar-se por morto, é enterrado sob os olhos de um monte de testemunhas, só que, dentro do caixão, ele tinha um tubo de oxigênio, que duraria por duas horas após o enterro, quando uma das vítimas da chantagem do ruinzão deveria ir até o cemitério, desenterrá-lo, para que ele pudesse viver em outro país (provavelmente o Brasil), sem que a Justiça o perseguisse. Porém o investigador descobre a trama e “prende” o chantageado até que a carga do tubo se esgote.  “Aí, ele vai lá e prende o cara, né?” Nananinanão! O investigador deixa o cara morrer lá dentro, asfixiado! Brilhante!

Querem saber, nenhum autor brasileiro teve cojones para escrever uma cena dessas. Um autor mexicano teve. É por isso que eu os respeito. E sinto saudades de novelões mexicanos, com seus excessos de maquilagem, fixador nos cabelos, rezas à Virgenzinha e maldades aos baldes.

3 comentários:

  1. Mariolinha,

    Muito bom seu blog. Parabéns!

    Lendo este post recordei também minha infância aqui no Rio de Janeiro. Minha mãe era costureira, passava o dia inteiro ouvindo rádio, principalmente as novelas da Rádio Nacional e da Rádio Tupi. Na Nacional e Tupi havia os novelões da tarde. Ela até chorava em alguns. Acho que o mais famoso foi O Direito de Nascer, que depois passou na TV. Também fez muito sucesso "A Cabana do Pai Thomas". Ás seis horas da tarde, logo depois da "Hora da Ave Maria", sem o padre Marcelo, claro, passava "Jerônimo, O Herói do Sertão" na Rádio Nacional. A gurizada toda, eu incluído, parava as brincadeiras no meio, saiamos correndo cada uma para suas casas, tomávamos banho, passávamos talquinho Eucalol, e sentávamos junto do rádio para ouvir mais um capítulo do intrépido “cowboy” sertanejo. Durante a noite, se não me engano por volta das 22h a Nacional tinha uma faixa de dramaturgia que eu sempre que conseguia burlar o sono escutava. Um dia era “O Anjo”, que também virou gibi, como o Jerônimo, noutro dia era o “Teatro de Mistério”, noutro o “Grande Teatro”, sempre apresentando um grande clássico. Aos sábados na Tupi tinha o “Incrível, Fantástico, Extraordinário”, com histórias de Terror. Era uma sensação entre a garotada!!! Quem era machão escutava, quem tinha medo ia dormir cedo. Rssss

    Durante a tarde, mais ou menos de 12 às 14h também tínhamos os nossos programas policiais: “Patrulha da Cidade” na Rádio Globo e “A Cidade Contra o Crime” na Tupi, ou vice-versa. Era legal de assistir, pois havia a dramatização das noticias policiais utilizando a turma do elenco de rádio teatro das emissoras.

    Um grande abraço Mariolinha e parabéns!!!

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  2. Mariolinha,

    Muito bom seu blog. Parabéns!

    Lendo este post recordei também minha infância aqui no Rio de Janeiro. Minha mãe era costureira, passava o dia inteiro ouvindo rádio, principalmente as novelas da Rádio Nacional e da Rádio Tupi. Na Nacional e Tupi havia os novelões da tarde. Ela até chorava em alguns. Acho que o mais famoso foi O Direito de Nascer, que depois passou na TV. Também fez muito sucesso "A Cabana do Pai Thomas". Ás seis horas da tarde, logo depois da "Hora da Ave Maria", sem o padre Marcelo, claro, passava "Jerônimo, O Herói do Sertão" na Rádio Nacional. A gurizada toda, eu incluído, parava as brincadeiras no meio, saiamos correndo cada uma para suas casas, tomávamos banho, passávamos talquinho Eucalol, e sentávamos junto do rádio para ouvir mais um capítulo do intrépido “cowboy” sertanejo. Durante a noite, se não me engano por volta das 22h a Nacional tinha uma faixa de dramaturgia que eu sempre que conseguia burlar o sono escutava. Um dia era “O Anjo”, que também virou gibi, como o Jerônimo, noutro dia era o “Teatro de Mistério”, noutro o “Grande Teatro”, sempre apresentando um grande clássico. Aos sábados na Tupi tinha o “Incrível, Fantástico, Extraordinário”, com histórias de Terror. Era uma sensação entre a garotada!!! Quem era machão escutava, quem tinha medo ia dormir cedo. Rssss

    Durante a tarde, mais ou menos de 12 às 14h também tínhamos os nossos programas policiais: “Patrulha da Cidade” na Rádio Globo e “A Cidade Contra o Crime” na Tupi, ou vice-versa. Era legal de assistir, pois havia a dramatização das noticias policiais utilizando a turma do elenco de rádio teatro das emissoras.

    Um grande abraço Mariolinha e parabéns!!!
    (By Alvarez)

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  3. Explico: como eu não conseguia mandar o comentário para cá, eu copiei-e-colei ...
    Acontece.

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