11/10/2010

Complexo de Cinderella

Houve um tempo, quando eu tinho perto de quinze, dezesseis anos, em que eu ficava completamente transtornada ao ter de sair para comprar roupas e sapatos. Nunca parei para analisar isso, agora, que há uma distância segura entre aquele tempo e o que eu sou agora. Poderia dar uma dúzia de desculpas  esfarrapadas sobre o assunto, desde ficar asperreada porque o dinheiro da compra vinha de minha irmã e ela se achava no direito de dar pitacos nas minhas escolhas – o que é mentira – a considerações metafísicas sobre acontecimento similar ter acontecido em uma prévia existência, que me levou a muito sofrimento. Eu sei, podemos traçar considerações metafísicas sobre o horário dos ônibus da Rodoviária, mas isso não vem ao caso, no momento. O que vem ao caso é meu desconforto diante do fato “comprar sapatos”. O desconforto vem de um simples fato: eu não gosto de nenhum sapato que vejo nas vitrines. Na verdade, o ortopedista, diante do meu caso de tendinite do calcâneo, sugeriu-me a compra de um tênis de corrida. Eu simplesmente a-do-ro meu All Star: simples, queridinho, pau-prá-toda-obra. Só que ele é muito reto e isso causa a tal tendinite. Dói prá burro – e prá Didi, também – e me impede de sair por aí, caminhando e cantando e seguindo a canção.

Pois hoje, aproveitando a folga que consegui na “redação”, saí para comprar o tal tênis de corrida. O menos feio que encontrei foi esse:

 

Isso é um tênis FEIO. Muito mais que feio, é … FEIO! Talvez eu não tenha me expressado corretamente. O tênis é …F-E-I-O! Sei lá, não consigo dizer exatamente o que essa … coisa causou na minha alma. É feio como bater na mãe na Sexta-feira Santa. É feio como brigar com a mãe por causa de bife. É feio como um concerto de funk carioca. Para complicar a situação, o vendedor queria que eu levasse uma dessas coisas horrorosas um número maior que o que eu calço. Ou seja, além de ficar com um tênis horrendo, iria ficar com um calçado maior que o meu pé! E não era por qualquer cinquenta reais, não! Estava na faixa dos cem reais. Para uma coisa disforme dessas, era muito caro! “Ah, mas você vai na ScrapSampa e desembolsa cem reais asi de facil!”  Lá, eu encontro coisas bonitas, que fazem bem à minha alma, enquanto isso

Fui salva por duas mulheres na rua. Duas mulheres com sacolinhas com a marca “Picadilly”. Era a marca de um dos melhores sapatos que eu já tive em toda minha vida. Sabe o que é um sapato confortável, bonito, que abraça seu pé como uma mãe acolhe seu recém nascido? Desabalei para a loja. E saí de lá com suas sapatilhas e um tênis – não feio como os dois acima. Não coloco as fotos porque não achei na Rede. (Suspiro) Mulher de uma certa idade sofre, viu?

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